“Vejo a arte como uma forma de expressão simbólica do mundo ao nosso redor e, ao mesmo tempo, uma expressão do que somos, da nossa essência e da nossa sensibilidade — não só do ponto de vista do artista que cria, mas principalmente de quem aprecia e a visualiza. É uma forma de apresentar e enxergar a poesia do mundo.”
Luss é uma artista plástica brasileira, bacharela em Direito, nasceu em maio de 1989, na cidade do Serro, Minas Gerais, onde viveu sua infância e adolescência, atualmente vive em Diamantina/MG e desde criança já demonstrava o gosto pelo desenho. Foi durante o mestrado em estudos de campo, que surgiu a ideia de trabalhar com a dupla exposição de imagens, ali percebeu uma forte conexão entre pessoas e territórios e via como era interessante essa correlação entre local e formação de identidades, em especial considerando o universo feminino e suas lutas.
Sendo fontes de inspirações a sua vivência nas duas cidades, também, pela belíssima arquitetura colonial, história e cultura de ambas. Mais tarde, na sua adolescência lhe surgiu a oportunidade de ingressar em curso de artes, seu contato com diferentes materiais e técnicas foram importantes para o conhecimento e escolha para a sua preferência, a qual utilizada até os dias atuais, que é pintura, óleo sobre tela. O seu aprimoramento foi ao longo do tempo traçado através de Workshops, oficinas de arte, pesquisas e estudos por conta própria.
A artista destaca em suas obras a força do feminino, logo a sua busca na narrativa construída, ora reflete a história do personagem retratado relacionando-o a sua importância local, ora a escolha se refere a uma construção estética proposta por ela, ressaltando como seu foco principal a interação constante entre local e identidade.
A busca pela dupla exposição de imagens presente em suas pinturas, transmite, inevitavelmente, a ideia de dualidade: corpo/espírito, racional/irracional, concreto/abstrato, pensamento/realidade, lembrança/esquecimento, estabilidade/impermanência. A própria conexão entre sujeito e objeto guarda essa dualidade. Assim, como a dupla exposição torna a obra cheia de simbolismos, é inexistente uma leitura ou um sentido único.
Inúmeras questões transcendentais podem vir a tona e dependerá da criatividade e da imaginação do próprio observador. Mas existe algo que está sempre em destaque em suas obras: o sagrado feminino — a conexão da mulher com a natureza, consigo mesma e com o mundo à sua volta e seu papel na sociedade. A ideia é construir um imaginário sobre a importância das mulheres nos processos históricos dos locais retratados (que, em geral, são cidades coloniais), já que muitas vezes nem sequer são lembradas ou nomeadas pela história, sendo sistematicamente negligenciadas, enquanto os homens têm sempre lugar de destaque. As figuras femininas são propositalmente aleatórias, permitindo que o observador possa buscar algum traço de similaridade consigo ou com algum conhecido, o que facilita a interação com a obra.
Em seu processo criativo, há uma idealização e preocupação na busca por referências de imagens para criar uma composição em que cores, luzes e sombras, transparências, expressões e contexto, com objetivo de que se acomodem com harmonia. Mesclar figuras femininas e lugares históricos (casarões, ruas, paisagens coloniais) faz parte da sua proposta. A escolha da paleta de cores, faz parte da sua observação fiel à referência construída.
O recurso estético da dupla exposição em fotografias serviu de inspiração para a construção de uma identidade para suas pinturas, óleo sobre tela. O que considera um recurso fascinante, pois, permite dotar as obras de um caráter onírico e simbólico, ao mesmo tempo, em que exige mais realismo na representação das imagens em conjunto sobre a tela, já que, para fazer sentido, a pintura deve ser cuidadosa em relação aos detalhes. Os trabalhos estampam composições etéreas (fluidas e delicadas), com cores vivas, contrastes intensos e personagens com expressões fortes e marcantes, formando um conjunto poético e sutil que convida o observador a interpretar a dualidade inerente ao ser no mundo, que transcende à própria imaginação.
Seu trabalho tem forte influência de artistas contemporâneos como a americana Pakayla Rae Biehn e o espanhol Oriol Angrill Jrodà, que trabalham dupla exposição de imagens em suas pinturas, com personagens femininas e sua relação com a natureza e o ambiente à sua volta. Suas belas obras têm um forte apelo simbólico e dualista.
Participou de exposições de arte em Serro/Minas Gerais, nos anos 2003, 2004 e 2019.